Neilma Menezes: “Papai mesmo com toda rigidez nos empoderou”

Neilma Menezes Rocha, a 2ª filha de cinco irmãos, chegou em Paulo Afonso nos anos 60, precisamente em 1963 acompanhando o pai, tenente Iran Barreto, ela então com treze anos. A família é de Ilhéus, no sul da Bahia.

Neilma está aqui, antes de mais nada para passar uma mensagem positiva com seu testemunho de fé, a forma como lida com os problemas que enfrentou e sua alegria que nos contagia.

Nos anos 60, Neilma colheu mesmo numa sociedade que iniciava muito fechada e preconceituosa, e com pai militar às flores das revoluções que pipocavam mundo afora e que já arrefecidas chegavam ao País. “Eu lembro como foi a primeira vez que usamos minissaia, era um escândalo!”

Então levados pelo pai, sem distinção porque menina ou menina, Neilma e seus irmãos foram estudar, participar dos jogos estudantis, praticar educação física, trabalhar e até os namoricos com a guarda dos irmãos.

“Meu pai era muito rígido; coisa de capitão do Exército, mas não só comigo, com os homens também. Eu cheguei aqui com treze anos e morávamos na Vila Militar, pai se reformou pelo Exército e nós ficamos morando na Chesf; como pai era professor de educação física, nos colocou para fazer exercícios: minha irmã ganhou muitos prêmios quando corria os 100 metros, meu irmão era da natação, e eu era do voleibol e do basquete, embora tenha sofrido muito bullyng porque era gordinha.”

Paulo Afonso tinha divisão

“Primeiro a Chesf era fechada em si, tinha aquele acampamento e eu sentia muita discriminação, não apenas com a mulher, mas com quem morava fora daquele muro.”

Pelo menos antes, tinha respeito

“Nós íamos para as festas, com os irmãos, e olha que eu usava minissaia àquele tempo, nunca ouvi uma piada e não existia essa coisa de hoje: violência, falta de amor próprio e autoestima baixa. Também acho que hoje a liberdade é demais, não estou dizendo que a roupa curta justifica um assédio, mas hoje as mulheres mudaram sua postura, e não é errado que a mulher se valorize mais.”

Também fui uma mãe rígida

“À diferença do meu pai, eu criei minhas filhas com mais diálogo, mas fui rígida. E não me arrependo porque elas foram bem-criadas.”

O bom da passagem do tempo

“Eu acho que hoje está melhor, no sentido de que as mulheres estão livres, sabe?, saem sozinhas [sou do tempo do ronconcom, risos, não sabíamos o que era isso], porém, eu acho que ela deve se valorizar mais sabe?”

A vida e o câncer

Em 2016, quando Neilma estava à disposição da Catedral de Nossa Senhora de Fátima para ajudar na organização das celebrações e encontros, ou seja, no serviço, a nossa ‘tenente’ como chamamos carinhosamente passou a ter desmaios e descobriu estar com câncer.

Neilma apresentou uma anemia profunda e chegou a desmaiar, em dezembro daquele ano

“Eu descobri em dezembro quando tive o segundo desmaio, que estava com anemia muito profunda, aí fui para Aracaju e o médico constatou que eu estava com câncer no intestino.”

Neilma foi operada para remoção do tumor, no hospital São Lucas de Aracaju e enfrentou a quimioterapia. E esta é a palavra-chave ‘enfrentar’ a doença com perseverança e confiança.

“A minha primeira reação foi de chorar, porque somos humanos, mas depois pedi aos médicos que me dissesse tudo o que ia acontecer porque eu não sou de murmurar, de questionar, eu assumo o que eu recebo, eu digo sempre as minhas amigas, as pessoas que perguntam a mim, que ninguém merece sofrer porque Deus quer a felicidade de cada um de seus filhos amados, então quando eu recebei a notícia eu pensei: ‘Deus sabe que eu vou suportar’, tem aquela história que Ele dá o frio conforme o cobertor.”

“Eu vou passar por essa provação e vou me curar com a graça de Deus”

“A minha mensagem maior é a fé, eu digo: temos que acreditar nesse Deus que está conosco, se tiver que ir para a salvação eterna, vamos tranquila, mas se tiver chance vamos lutar. Na quimioterapia onde eu já chegava animada, dava bom dia a todo mundo e conversava com um e outro, e percebia que cada um tinha um processo diferente do meu, por exemplo, eu não tive queda de cabelo, mas tive muito enjoo, mal-estar enorme, mas graças a Deus estamos aqui”