29 de março de 2024

França – os tropeços da Quinta República

Por

REDAÇÃO - PA4.COM.BR

Francisco Nery Júnior em Toulouse, na França. Foto: Arquivo pessoal (PA4.COM.BR)



 

 

É quase impossível tropeçar na França. As calçadas são quase perfeitas. Os tropeços ficam para a Quinta República de Emmanuel Macron. Após o governo parlamentarista do pós-guerra, os franceses adotaram, a partir de 1958, um tipo semipresidencialista de governo com o apoio do general Charles de Gaulle, herói da Resistência [aos alemães]. Com a promulgação de uma nova constituição, surgiu a Quinta República que teve o general de Gaulle como presidente de 1958 a 1969.

 

De Gaulle foi um general de fibra que não concordou com o governo colaboracionista da França ocupada pelos nazistas. Nacionalista ferrenho, fugiu para a Inglaterra e, de lá, liderou o movimento de resistência. Pertenceu a uma safra de generais que ficaram no coração dos seus concidadãos. Renunciou em 1969 sob pressão do movimento libertário que surgiu na França em 1968, principalmente entre os jovens estudantes. Retirou-se em humildade para a pequena localidade de Colombey-les-Deux-Églises, no nordeste da França, onde faleceu em 1970. Na sua lápide, como havia desejado, apenas o seu nome e a data do falecimento.

 

Estamos agora na França de Emmanuel Macron. O custo de vida é alto. Em determinados departamentos há problemas de assistência médica e o presidente Macron apresenta um projeto de reforma do sistema previdenciário (leia-se corte de direitos adquiridos) e de aumento da jornada de trabalho. O operariado reclama dos baixos salários. Repare o leitor que com um salário mínimo de cerca de 900 euros (renda líquida), o trabalhador tem que pagar 10 euros por um almoço num restaurante comum, 25 euros por uma corrida de táxi, 7 euros por um peito de frango no supermercado (no momento um euro equivale a 4,5 reais aproximadamente).

 

Francisco Nery Júnior em Toulouse, na França. Foto: Arquivo pessoal (PA4.COM.BR)

Em consequência, surgiu o movimento dos coletes amarelos que procura demonstrar a insatisfação do povo francês. Há cerca de um ano, eles desfilam e protestam pelas ruas da França bradando palavras de ordem e ostentando cartazes de protesto. Em Toulouse, me intrometi no meio deles e desfilei por alguns metros. O que me atraiu foi basicamente um cartaz onde se podia ler: “O Estado é [está] corrupto. A corrupção é o Estado!!! Junte-se ao [nosso] movimento… ”

 

Se as coisas fossem diferentes no Brasil, eu teria ficado quieto no canto da calçada. A placa funcionou como um imã irresistível e eu não consigo me reprovar por ter participado, uma vez na vida, na França dos libertários, de um movimento que grita e esperneia, quero crer, em favor dos mais pobres, desvalidos ou simplesmente sem oportunidade.

 

A minha curiosidade é saber como teria reagido o leitor. Estaria, porventura, a me censurar? Será que, no país dos outros, eu deveria me conter? Como me conter, poderia redarguir? Que força poderia arregimentar para resistir à onda arrasadora de um movimento que procura manter acesa a chama da liberdade, da igualdade e da fraternidade?

 







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COMENTÁRIOS

Comentários 2

  1. Ten Araújo says:

    Não tá fácil lugar nenhum!

  2. Professor. says:

    Onde estão os defensores de Macron, o presidente sensacionalista que promoveu toda a “campanha pró- floresta amazônica”? Santa inocência…

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