Ao saber do assunto abordado na prova, os alunos demonstraram grande entusiasmo. “Nós que somos professores de português, ficamos na expectativa do tema da redação do Enem. Quando eles terminaram a prova, mandaram várias mensagens para mim dizendo que lembraram das aulas, que fizeram redações maravilhosas”, contou emocionada a professora Neury, com 23 anos de experiência na educação.
A valorização da cultura africana foi um tema central nas aulas de Neury ao longo de todo o ano letivo. A professora dedicou-se a trabalhar o conteúdo com seus alunos por meio de debates, filmes, músicas, livros e, claro, redações. O planejamento para este trabalho foi iniciado em dezembro de 2023, com a implementação das atividades já em fevereiro deste ano.
Para Ivone, abordar questões relacionadas ao antirracismo, o letramento racial e a cultura africana era fundamental por duas razões: ela acreditava que o Enem traria uma temática ligada a essas pautas e, além disso, a maioria de seus alunos são negros ou pardos. “Eu sabia que neste governo, a pauta estaria relacionada às minorias, sabia que seria algo que trouxesse a valorização desses povos [africano e indígena]”, explicou a professora.
Além de preparar os alunos para a redação do Enem, Neury também se preocupou em desenvolver o letramento racial entre os estudantes, incentivando-os a refletirem sobre suas origens. Durante o processo, ela percebeu que muitos não conheciam sua ancestralidade, o que a motivou a reforçar o ensino sobre a importância de valorizar as culturas afro-brasileira e indígena. Para ela, essa é a parte mais significativa de seu trabalho: “Eu sei que eles vão ser antirracistas onde estiverem”, afirmou com confiança.
Embora as notas do Enem só sejam divulgadas no ano que vem, a professora está otimista quanto ao desempenho de seus alunos. Para Neury, acertar o tema e preparar os estudantes para a redação do Enem em uma escola pública estadual representa mais do que alcançar uma nota alta. “A perspectiva de emancipação é ter motivos para pisar na escola todos os dias. Essa pode ser a porta de entrada dos meus alunos para uma universidade pública”, comemorou.
O acerto do tema, portanto, não é apenas um reconhecimento para a professora, mas também um reflexo da importância de um trabalho educativo comprometido com a formação crítica e cidadã dos estudantes. Neury continua firme em sua missão de transformar a educação em uma ferramenta de emancipação e combate ao racismo, preparando seus alunos para um futuro mais justo e igualitário.