Profª. Célia Maria ‘Só conseguimos fazer esse trabalho com muito amor e paciência’

Célia Maria Ramos [pauloafonsina, historiadora, e pós-graduada em gestão e planejamento]

A Proª. Célia Maria Ramos, é casada e tem duas filhas. Está há 27 anos na creche Casulo [Irmão Luís], no bairro Centenário, onde ela chegou em 1989.

Embora não tenha escolhido o magistério como primeira vocação, como vai nos contar a seguir, foi com ele que centenas de crianças passaram pelos seus cuidados ao longo de tantos anos.

Reconhecemos a contribuição e a importância de mulheres como Célia, para o crescimento humano e social de tantas pessoas; no caso dela, a enorme responsabilidade de orientar os cuidados para eles na fase principal de suas vidas que é a primeira infância, bem como acompanhar na medida do possível a vida dos pais: orientar, aconselhar e pedir:

“Não deixem que tudo o que fazemos aqui se perca no caminho.”

Célia diz que a educação é primordial para ambos, os meninos e as meninas e que sente apreensão quanto ao futuro. Chegamos na creche e apropriadamente eles dormiam.

‘Minha mãe é de Chorrochó-BA e meu pai [já falecido] de Arcoverde-PE, eles chegaram pequenos em Paulo Afonso’, conta.

A mulher e o afeto

No Casulo, são dezenove funcionários, a maioria mulheres, com apenas dois homens.

“O que faz o nosso trabalho dar certo é amar o que fazemos, e acima de tudo ter muita paciência, e agora melhorou bastante porque temos um professor e um cuidador em cada sala.”

O sonho de ser dentista não foi possível realizar

“Eu sonhava em ser dentista, precisaria ir embora, eram muitas as dificuldades para realizar o sonho, já que em Paulo Afonso, naquele tempo tínhamos o magistério e o curso de eletrônica, então eu fui me adaptando e gostando; tivemos as mesmas oportunidades, lá somos quatro irmãs e dois irmãos, meus pais trabalhavam na Chesf; mas nem todos aproveitaram da mesma forma e isso eu sinto muito até hoje e digo: ‘ainda está em tempo’.”

Minha tristeza

“Aqui eles chegam de todas as realidades e me dá uma aflição de pensar em como vai ser quando eles saírem daqui; chegam com um aninho, dois ou três e quando completam cinco anos, vão embora… Então eu chamo os pais ou os responsáveis e digo sempre a mesma coisa: ‘olhe gente eles chegaram aqui umas sementinhas e desabrocharam, deem continuidade, não deixem parar. É triste eu vê-los na imprensa já rapazinhos, envolvidos em coisas erradas, dói muito; ao mesmo tempo, sinto uma grande alegria quando sei que foram adiante e se formaram, temos muitos alunos aqui do Casulo que fizeram faculdade.”

Célia conta que hoje já recebe os ‘netos’, filhos de mães ou pais que estudaram lá.

“Eu acho interessante que quando minhas filhas querem as coisas veem me pedir, e eu digo: ‘peça ao seu pai’, mas elas só querem pedir a mi, dizem que não é a mesma coisa”.

As mãos femininas que cuidam  dos pequenos

“O afeto é nosso, da mulher, não é que os homem não tenham, mas nós somos assim e eu acho tão interessante quando eles nos chamam de ‘mamãe’; outro dia eu estava saindo de casa e um rapaz que varria a rua me abordou: ‘Tia Célia, a senhora mora aí?’ os outros ficaram rindo dele, mas eu disse continue me chamando de tia Célia.”

O acompanhamento também para os pais

“A gente faz reuniões, encontros individuais, basta que um professor detecte alguma coisa, nós temos as reuniões em grupo e havendo um problema chamamos os pais; mas quanto a isso eu tenho uma boa notícia porque na última semana fizemos a primeira reunião de pais e fui surpreendida com a quantidade que compareceu.”

Célia finaliza dizendo que a melhor coisa para ela é chegar em casa e ter o carinho das filhas. “Amo a minha família, o meu trabalho da creche, meus pequenininhos, sempre digo que a creche faz parte da minha vida, são 27 anos de dedicação e me relaciono bem com os familiares, temos confiança e respeito.”