Por Luciano Júnior
Acordei cedo neste sábado e, visitando as redes sociais, deparei-me com algo que só Paulo Afonso, com sua atual gestão pública, poderiat proporcionar: um vídeo de puro engenho, criatividade e crítica social. Nele, senhoras e crianças transformaram montanhas de lixo acumulado em um dos condomínios da cidade – obra do esquecimento da administração pública – em uma árvore de natal monumental. E aqui já intercedo pelo perdão Celestial, principalmente ao prefeito.
Era uma obra-prima de ironia visual, uma instalação de arte urbana que dialogava com a precariedade e a força do povo. A base, composta por gigantes sacos plásticos rasgados e desgastados pelo sol sertanejo, erguia-se em um desfile de cores e texturas que só o descaso público consegue proporcionar. No topo, a estrela improvisada parecia sussurrar: “feliz natal, senhor prefeito, resolvemos dois de seus problemas: coleta de lixo e decoração de natal.”
Ao assistir à cena, imaginei o potencial desse gesto ser replicado. Quem sabe, com o engajamento de toda a cidade, atingiríamos um recorde mundial. O Guinness Book seria chamado para registrar “a maior árvore de natal feita de inservíveis acumulados por incompetência política do universo”. Imaginei jornalistas do mundo todo chegando à cidade para admirar a fusão de arte, protesto e humor ácido.
O prefeito Marcondes, claro, seria alçado ao estrelato. Com a altivez de quem nunca faltou a um churrasco de inauguração, ele poderia até discursar: “É isso que chamo de sustentabilidade! Transformamos o problema em inovação!” Não duvido que o mesmo lixo, que meses antes era motivo de queixas nos bairros, passasse a ser vendido como souvenir turístico, pelo prefeito. Camisas estampadas com “Eu vi a árvore de natal do Conde” seriam um sucesso.
A tragédia do descaso encontrou no povo sua redenção. O humor das senhoras que montaram a árvore é a prova de que a criatividade é a resistência mais poderosa. Porque em Paulo Afonso, onde há luz, água e um povo trabalhador, há também a capacidade infinita de transformar a precariedade em espetáculo. Essa é a beleza de nossa terra: enquanto o poder público nos vira as costas, o povo inventa um natal que não deixa ninguém esquecer que o lixo, às vezes, está nas ruas; outras, em lugares bem mais elevados e sempre será encontrado na cabeça e coração de políticos que não valorizam o povo, talvez até por terem título de nobreza, conde, ou melhor, conde Drácula.