CRÔNICA – O Pastoril na praça
Na Praça do Milhão
Por Francisco Nery Júnior
A Praça do Milhão bombou com o pastoril na noite de ontem, seis de janeiro. Os pastores foram do Oriente e atestaram as profecias. O Messias que haveria de vir acabava de chegar, os seus não o reconheceram, e a Verdade se fez carne com o reconhecimento e a chancela dos pastores do Oriente.
No palco da praça, as senhoras pudicas e valentes de Paulo Afonso faziam o papel de pastoras modernas. Anunciavam o Salvador que já veio. As injunções da idade não foram impedimento. Para a verdade e a fé – fé no que deve ser crido – não há barreiras. Dona Maria de Jesus, Maria de Aline para nós outros, exultava. Bonita como deve ser aos setenta e poucos, rodava e balançava a saia. Os organizadores da promoção na praça fazem o seu papel. As palmas que batemos, batemos para elas e para eles. Eles, definitivamente, merecem.
Houve até discurso de uma delas, a mais antiga. Não foi a mais velha porque velha é a estrada e porque não vale a pena enfrentar um processo por escolha falha de um termo. A velhinha discursou aos 85 anos. Pena que não se conseguia ver a sua face pelos reflexos dos focos de luz nas nossas caras. A audição também foi precária pelo excesso estrondoso do som que arrebentava os nossos ouvidos – pelo menos ou meus.
Fim de apresentação, nossas palmas efusivas do fundo do coração. As palmas foram para as nossas bem-aventuradas anciãs. Delas, com elas e por elas vamos progredindo e nos educando para melhor.
Ainda viria um trio a proclamar e ratificar as Boas Novas e, depois, pelo que estava informado, o tradicional, nobre e afinado Zênite. Os meus ouvidos, porém, não me permitiram permanecer. Afrouxaram. A culpa única e irrefutável foi deles, dos meus ouvidos. Cabras frouxos que não me permitiram ficar.
Perdi eu o espetáculo – por causa dos meus ouvidos.