Por Francisco Nery Júnior
Dormi com a ideia na cabeça: falar um pouco sobre o rei Davi. Para início de conversa, tomando como certo o leitor já conquistado, a sua linhagem produziu o Cristo Redentor. Basta e vamos lá.
Vamos lá e ligeiro. Doze dias após minha segunda cirurgia de hérnia inguinal, de quebra urinando sangue [pouco] e a dor começando a se insinuar no nosso caminho; assim escrevo. Sempre uma dor a nos empurrar para a frente, a nos tirar da acomodação. Bendita a dor que produz algo de bom. Até mesmo purgação e meditação. A dor e o sangue são sinais de pedra nos rins. Há uma coleção delas para arquivo. Ah, se fossem pérolas como as das conchas das ostras, estariam nos rins dos leitores – ou de algum sabidão da política. Eles, os sabidões, dariam um jeito.
Escrevo para o leitor do site – sempre escrever para quem tem olhos para ler -, após ter ligado o celular (antigamente ligávamos o rádio) e ter ouvido o pastor começar a falar da parábola do Filho Pródigo. O texto é bastante conhecido e creio que ele deve estar explorando todo e qualquer meandro, mesclando o resultado com os fatos da vida real e atual.
Então o nosso título anuncia o rei Davi – escolhido por Deus através do profeta. Tinha em torno de dezesseis anos e pastoreava as ovelhas. Era ruivo, o que, de entrada, já o diferenciava dos outros irmãos. Também altos, malhados e bonitões, desfilaram na frente do profeta de Deus que os descartou e escolheu o adolescente Davi.
A história continua. O rei Saul, primeiro rei de Israel, imposto a Deus por teimosia do povo, a despeito de todas as advertências comunicadas pelo profeta, ainda reinava. Estava em desgraça perante o Senhor e procurava se apegar ao poder. Soube da escolha e procurava, insistentemente, matar Davi. Como poderíamos esperar, fracassou em todas as tentativas. Davi sempre se esgueirava, fugia e se escondia; se protegia.
Como os maus sempre cometem erros elementares, Davi, escolhido e ungido nada menos por Deus, teve oportunidade de matar o rei Saul e se apoderar do reino. Sabiamente esperou o decorrer dos fatos e o cumprimento da sua escolha.
O que estamos nos esforçando para demonstrar é o caráter de Davi. A submissão ao tempo de Deus foi fundamental, mas a lealdade ao rei que tinha sido ungido por Deus foi marcante. Davi o olhava como o seu rei e senhor e mantinha a lealdade. Teve a chance de matá-lo desarmado e vencido, mas não o fez. Não procurou “lascá-lo” uma vez no poder.
Davi, guerreiro e derramador de sangue devido às circunstâncias do seu tempo, mulherengo e às vezes injusto, fraco por vezes e mesmo assassino para proveito próprio, não perdeu a sensibilidade. Não perdeu a ternura. No episódio da sublevação e tentativa de golpe por parte do seu filho Absalão, Davi foi nobre e superior. Perdoou o filho e recomendou que o mantivessem vivo após a captura. Desobedecido, chorou amargamente a morte do seu filho Absalão.
Absalão, foi o filho do pecado de Davi, o que nos remete à consideração da propriedade e das consequências dos nossos pecados.
Destoando do procedimento comum dos vencedores, o Rei Davi preservou a família remanescente do rei Saul. A sua amizade com Jônatas, um dos filhos do antigo rei, é marcante e mesmo tocante. Raramente vamos encontrar na bíblia ou na História Antiga exemplos de caráter, destreza e compaixão como demonstrados por Davi.
Impedido, por causa dos seus erros e fraquezas, de construir um templo para Deus, não se furtou amealhar recursos e materiais antes da sua morte. Salomão, filho e sucessor, herdou os planos, materiais e recursos para a construção do templo.
Assim morreu Davi farto de anos, de riquezas, de recordações e de vitórias retumbantes por ter trilhado nos caminhos do Deus de Israel.