O escritor Luciano Júnior compartilhou nas redes sociais um texto impactante que nos convida a refletir sobre o Natal em Paulo Afonso, repleto de memórias e questionamentos sobre o brilho perdido da cidade.
Veja texto abaixo:
Luciano Júnior
É dezembro, e o Google Fotos, aquele amigo intrometido que ninguém convida mas sempre aparece, começa a despejar lembranças. Lá estão elas: natais passados, risos engavetados, a árvore gigante da Praça das Mangueiras. Um espetáculo de luzes que já foi símbolo de orgulho local e que hoje só reluz na tela do celular.
Nostalgia, essa velha conhecida, senta ao nosso lado e pergunta: “O que aconteceu com o brilho de Paulo Afonso?”
No ano passado, lembro-me bem, era 15 de dezembro quando cheguei à cidade. A decoração natalina ainda era um rascunho. “Será que dá tempo?”, pensei, enquanto observava as luzes penduradas pela metade, como se a cidade também estivesse indecisa sobre celebrar ou não. Por fim, deu-se o milagre do improviso, mas ficou aquela sensação de “podia ser bem melhor”. Este ano, nem isso. Nem meia bola de Natal. O rumor que circula não é de festa, mas de corte de energia. Ironias da vida: Paulo Afonso, que já foi a capital da energia, e manda energia pro nordeste, celebra agora um Natal às escuras.
Parece roteiro de filme. Não aquele natalino bonitinho, com final feliz e muita neve falsa. Estamos mais para “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens. Só que aqui, os fantasmas do passado, presente e futuro teriam trabalho extra. O “Conde Prefeito”, como o chamam, precisaria de uma maratona de visitas noturnas. Talvez assim entendesse que espírito natalino não se compra em discursos vazios, mas se constrói em gestos simples. Uma luzinha aqui, uma bolinha ali. Não precisa de muito para reacender o brilho em olhos cansados. E, claro, sem montanhas de lixo e matilhas de cães doentes e famintos nas ruas.
Mas a culpa não é só dele. Nós, como comunidade, também desaprendemos a exigir. Talvez tenhamos nos acostumado com o “dá pra passar”. É como carregar ferramentas pesadas enquanto fugimos de um incêndio, ficamos presos ao hábito, sem perceber que ele nos afunda. Ano passado poucos reclamaram da árvore de natal montada no dia 24, este ano nem árvore terá. O Natal apagado de Paulo Afonso é um lembrete silencioso de que é preciso desapegar do conformismo e reivindicar o novo. O povo tem que cobrar! Ir às ruas, protestar!
Talvez, no próximo dezembro, o Google Fotos nos traga algo mais que recordações. Quem sabe ele nos mostre uma cidade que aprendeu a brilhar outra vez. E, por ora, se faltar luz, resta acender a vela da esperança. Porque, no fundo, Natal é isso: a coragem de acreditar, mesmo no escuro.