Santo significa separado, aquele que foi escolhido para determinada tarefa. No caso do evangelho, para testemunhar e pregar as boas novas da salvação. O Gabigol, que eu desconfiava sobrenome francês, mas é uma construção dos fãs, foi certamente separado para dar as boas vitórias aos flamenguistas, neste caso aos brasileiros. E o Flamengo voltou de Lima campeão da Taça Libertadores da América.
A Igreja Católica santifica após devido e muitas vezes penoso processo. O Gabigol do Flamengo foi santificado in promptu pelo governador do estado do Rio de Janeiro. Autoinvestido papa do futebol, estribado na autoridade de chefe do executivo carioca, o governador Witzel se ajoelhou em frente do santo salvador Gabigol, pegou-lhe na mão pensando beijá-la, e cumpriu a tarefa para a qual se considerou devidamente autorizado pelo massa popular do estado do Rio.
O governador, juiz de direito transfigurado em político, no meio do gramado de um estádio ajoelhado abaixo de um menino a quem a sorte concedeu a maestria de chutar uma bola de futebol. Este o quadro. Esta a jogada de um juiz governador que quer se tornar presidente em 2022. A sorte está lançada.
Witzel passou vergonha ao se ajoelhar em frente ao GabiGol e ser esnobado?
( ) Sim
( ) Claro pic.twitter.com/Av68czXMwO— Gil Diniz (@carteiroreaca) 24 de novembro de 2019
E o novo santo Gabigol, como bom santo, ficou desajeitado. (O relato de um contemporâneo da Irmã Dulce testifica que ela não gostava de ser chamada santa.) Saiu pela tangente. Poderíamos mesmo dizer que lançou para trás – e para baixo – um ar de desprezo. O dia e a glória eram seus. A vitória lhe foi concedida. Carecia saboreá-la.
No rastro, por terra, impotente, ajoelhado e fora do alcance dos holofotes, ficou o governador de um importante estado brasileiro que, no máximo, talvez, devesse ter ficado no alto da tribuna de honra do estádio da capital do Peru.
Francisco Nery Júnior